Um grupo de navios de guerra russos chegou ao Porto de Havana, em Cuba, ontem, quarta-feira, 12, para exercícios militares na costa da ilha caribenha. De acordo com o comandante-em-chefe da Marinha Russa, Alexander Moiseev, a operação ocorre no âmbito da cooperação internacional entre Rússia e Cuba.
Segundo o líder militar, a chegada à ilha é um dos objetivos da viagem de longa distância do destacamento da Marinha Russa, durante a qual a frota russa realizou exercícios “com mísseis de alta precisão” no Oceano Atlântico. Moissev informou que a fragata “Almirante Gorshkov” possui armas modernas a bordo e o submarino nuclear Kazan também se juntará à frota russa em Cuba para os exercícios.
“Como parte do exercício, as tripulações de uma fragata e de um cruzador de mísseis submarino com propulsão nuclear estão praticando o uso de armas de mísseis de alta precisão usando simulação computacional contra alvos navais que representam grupos navais de um falso inimigo e estão localizados à distância de mais de 600 quilômetros”, informou a Marinha Russa.
Os planos da Marinha Russa incluem reuniões com o comando da marinha cubana e com o governador de Havana. Os navios da Marinha Russa estarão no porto de Havana entre 12 e 17 de junho.
Ao comentar a visita dos navios russos, a chancelaria cubana afirmou que a chegada da Marinha Russa corresponde às relações amistosas entre Havana e Moscou e cumpre rigorosamente as regras internacionais. O Ministério das Relações Exteriores de Cuba acrescentou que os navios russos não carregam armas nucleares e sua permanência não representa ameaça para a região.
O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, também declarou anteriormente que os Estados Unidos estão monitorando a situação em torno da visita de navios da Marinha Russa a Cuba, mas não veem isso como uma ameaça à sua segurança nacional.
Não são incomuns as escalas de navios russos no porto de Havana durante suas expedições de exercícios navais. A novidade é o escopo da frota, composta por uma fragata capaz de transportar mísseis de cruzeiro, e, em particular, o submarino nuclear multifuncional Kazan, que possui um poderoso sistema de mísseis.
Recentemente, autoridades militares dos EUA se referiram a tais embarcações como potenciais ameaças à segurança do país. Em março de 2024, o chefe do Comando Norte das Forças Armadas Americanas (NORTHCOM), Gregory Guillot, durante uma audiência no Senado, afirmou que que Moscou planeja comissionar 12 submarinos da classe Kazan, dividindo-os igualmente entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Segundo Guillot, isto representaria uma “ameaça convencional persistente às infra-estruturas críticas” em quase toda a América do Norte.
A presença da frota russa em Havana acontece paralelamente à visita do chanceler cubano, Bruno Rodriguez Parrilla, a Moscou. O ministro das Relações Exteriores de Cuba se reuniu com o seu homólogo russo, Serguei Lavrov.
Durante o encontro, o chanceler russo reiterou a disponibilidade de a Rússia seguir apoiando as exigências de Havana para o fim imediato do bloqueio econômico, comercial e financeiro de Washington contra Cuba.
“Apoiamos a remoção de Cuba da lista dos Estados Unidos de patrocinadores estatais do terrorismo. Isto é uma anomalia absoluta quando um Estado inclui Cuba nessa lista e, ao mesmo tempo, eles próprios – os Estados Unidos da América e os seus satélites – tentam manter a sua ardilosa hegemonia nos assuntos mundiais através de um aberto terror absoluto, utilizando métodos de terrorismo econômico, financeiro, diplomático, juntamente com financiamento direto, com apoio a ataques terroristas do regime neonazista em Kiev contra civis em território russo”, disse Lavrov.
A declaração do chanceler russo acontece no contexto da recente autorização que países ocidentais deram à Ucrânia de utilizar suas armas para atingir alvos em territórios russo.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia destacou também que os próximos passos da interação entre Moscou e Havana “incluem o aumento da coordenação nas questões da América Latina e do Caribe”.
“Estamos fazendo o nosso melhor para promover a aproximação com Cuba e outros países latino-americanos, incluindo membros da ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas), com a Comunidade Econômica Eurasiática, onde Cuba é um observador e pode ajudar a fortalecer as relações das nossas estruturas de integração com outros países da América Latina e Caribe”, completou o ministro.
Em 5 de junho, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que Moscou poderia responder ao fornecimento de armas à Ucrânia, colocando as suas armas em outras regiões do mundo próximas a países hostis a Moscou.
“Estamos pensando no fato de que se alguém pensa que é possível fornecer tais armas a uma zona de combate para atacar nosso território e criar problemas para nós, então por que não temos o direito de fornecer nossas armas da mesma classe para aquelas regiões do mundo onde serão realizados ataques contra alvos sensíveis dos países que o fazem em relação à Rússia? Ou seja, a resposta pode ser simétrica. Vamos pensar sobre isso”, disse ele.
Brasil de Fato
Edição: Rodrigo Durão Coelho