O Bembé do Mercado, maior candomblé de rua do mundo, celebrado há 136 anos em Santo Amaro da Purificação, no recôncavo baiano, será o tema de enredo do desfile da Beija-Flor de Nilópolis no próximo carnaval, com o qual a escola campeã deste ano tentará o bicampeonato. A manifestação cultural e religiosa é reconhecida como Patrimônio Imaterial da Bahia desde 2012 e do Brasil a partir de 2019. Agora a celebração pleiteia também o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.
Considerada uma das mais importantes manifestações de resistência e fé do povo preto no Brasil, a celebração é realizado desde 1889, um ano após a abolição da escravidão no país. O Bembé do Mercado reúne mais de 60 terreiros de matriz africana e promove, em praça pública, uma extensa programação cultural ao longo de cinco dias. O ponto alto da celebração é o xirê, seguido pelo cortejo e pela entrega de presentes às orixás Iemanjá e Oxum, em agradecimento à liberdade conquistada após a assinatura da Lei Áurea.
Na manhã desta segunda-feira, a diretoria da escola de Nilópolis desembarcou em Santo Amaro para uma imersão cultural na cidade. A comitiva se reuniu com os detentores, autoridades locais, lideranças religiosas, historiadores e pesquisadores, iniciando o processo de construção do enredo, que será desenvolvido pelo carnavalesco João Vitor Araújo, que assina seu terceiro desfile pela agremiação. A pesquisa ficará a cargo de Guilherme Niegro, Vivian Pereira e Bruno Laurato. Já a direção de carnaval segue com Marco Antônio Marino.
—Para nós, é um orgulho contar mais uma história de protagonismo e resistência preta na Sapucaí. É a nossa identidade, está no nosso DNA, e é como a comunidade nilopolitana se vê. O Bembé e a Beija-Flor têm muito em comum, e estamos muito felizes e honrados em apresentar essa cerimônia tão valiosa para todo o Brasil — disse Almir Reis, presidente da escola.
O carnavalesco João Vitor Araújo destacou a conexão com a ancestralidade e a luta do povo predo proporcionada pelo enredo:
—O Bembé do Mercado é de uma potência simbólica e estética imensa. É um enredo que nos atravessa, que nos conecta com a ancestralidade e com a luta do povo preto no Brasil. Ter a chance de criar um enredo autoral como esse, com tamanha relevância histórica e espiritual, é um presente. É uma responsabilidade enorme, mas também uma felicidade imensa — destacou o artista.
Para Pai Pote, babalorixá do Ilê Axé Ojú Onirê, guardião e presidente da Associação Beneficente Bembé do Mercado, a parceria representa um reconhecimento histórico:
—A escolha da Beija-Flor é um marco. Levar o Bembé para a Sapucaí é dar visibilidade a uma tradição que há mais de um século reafirma a força do povo preto e de santo nas ruas. Essa visibilidade fortalece nossa luta, amplia nosso alcance e ajuda a combater o preconceito com informação, beleza e ancestralidade. É sobre memória, resistência e orgulho. O Bembé é do povo, é sagrado, e agora será visto, sentido e celebrado por milhões.
A edição de 2025 do Bembé será realizada em maio e marcará os 136 anos de existência da celebração. Em 2026, a Beija-Flor será a segunda escola a desfilar na segunda noite de Carnaval.
A definição desta segunda-feira faz da Beija Flor a segunda agremiação do Grupo Especial a divulgar enredo para o ano que vem. A Paraíso do Tuiuti revelou seu tema na semana passada: “Lonã Ifá Lukumi” que contará a história de uma vertente religiosa afro-cubana que vem sendo redescoberta no Brasil.
Do Extra/Globo