Pesquisadores identificaram indícios de que um sistema de dois corpos gelados no Cinturão de Kuiper pode, na verdade, ser um trio. Para isso, eles usaram dados do Telescópio Espacial Hubble, da NASA, e do Observatório W. M. Keck, no Havaí, nos Estados Unidos (EUA).
O estudo sugere que o objeto Altjira 148780, localizado a cerca de 6 bilhões de quilômetros da Terra, pode conter três corpos gravitacionalmente ligados, o que reforça uma teoria sobre a formação desses objetos na periferia do Sistema Solar.
Se confirmado, esse será apenas o segundo sistema triplo identificado no Cinturão de Kuiper, indicando que tais formações podem ser mais comuns do que se imaginava. O estudo foi publicado no The Planetary Science Journal e liderado por Maia Nelsen, pesquisadora de física e astronomia da Universidade Brigham Young, nos EUA.
Descoberta no Cinturão de Kuiper: problema dos três corpos
- Possível trio de corpos gelados:o sistema Altjira pode ser composto por três objetos ligados gravitacionalmente, e não apenas dois, como se pensava anteriormente.
- Observação com telescópios de ponta:a descoberta foi feita a partir de 17 anos de dados coletados pelo Hubble e pelo Keck Observatory, que analisaram o movimento orbital do sistema.
- Implicações para a formação do Sistema Solar: a existência de sistemas triplos no Cinturão de Kuiper sugere que esses corpos podem ter se formado por colapso gravitacional, e não por colisões, como ocorre com muitos asteroides.
Um trio escondido no espaço profundo
Estima-se que o Cinturão de Kuiper, localizado além da órbita de Netuno, abrigue centenas de milhares de corpos gelados com diâmetros acima de 16 km. Conhecidos desde 1992, esses corpos gelados – chamados de KBOs (na sigla em inglês em referência a “Kuiper Belt Objects”) – são remanescentes da formação do Sistema Solar.
Até agora, cerca de 3.000 objetos do Cinturão de Kuiper foram identificados, incluindo Plutão e Arrokoth – ambos já foram visitados por missões espaciais.
A descoberta do possível terceiro corpo no sistema Altjira foi feita por meio da análise de imagens do Hubble. A uma distância de 7.600 km entre os dois corpos visíveis, os cientistas perceberam uma oscilação na órbita do objeto externo, sugerindo que ele interage com um terceiro corpo ainda não distinguível nas imagens diretas.
“Com objetos tão pequenos e distantes, a separação entre os dois corpos internos é uma fração de pixel na câmera do Hubble, então precisamos usar métodos indiretos para identificá-los”, explicou Maia Nelsen, líder do estudo.
Os pesquisadores também consideraram outras possibilidades, como a hipótese de que os dois corpos internos sejam um binário de contato, ou seja, objetos que se tocaram e se fundiram ao longo do tempo. Contudo, os modelos orbitais indicam que um sistema triplo é a explicação mais provável.
Novas oportunidades para estudo com telescópios avançados
A descoberta de sistemas triplos no Cinturão de Kuiper pode ajudar os cientistas a entender como esses corpos se formaram há bilhões de anos. Segundo o estudo, em vez de surgirem a partir de colisões, esses objetos podem ter se formado como sistemas múltiplos diretamente do colapso gravitacional da matéria ao redor do jovem Sol.
“Outros objetos no Universo se formam como sistemas triplos, incluindo estrelas como Alpha Centauri. Agora estamos descobrindo que o Cinturão de Kuiper pode não ser uma exceção”, disse Darin Ragozzine, coautor do estudo.
Embora não haja nenhuma missão planejada para visitar Altjira, a NASA afirma que os cientistas terão uma nova oportunidade de estudá-lo nos próximos anos. O sistema entrou em um período de eclipses, no qual o corpo externo passará regularmente em frente ao objeto central, permitindo medições mais detalhadas de sua composição e estrutura.
Além disso, o Telescópio Espacial James Webb será utilizado para investigar se os componentes de Altjira possuem características semelhantes, contribuindo para validar a hipótese do sistema triplo.
Do portal Olhar Digital