POR: NILSON SANTOS*
No período imperial, no Brasil, a figura do Rábula era bastante prestigiada nos meios sociais, cujos serviços eram bastante requisitados pelos barões da época.
Mas, o que seria um Rábula? Simplesmente aquele autodidata que exercia a advocacia sem possuir qualquer formação acadêmica em Direito. Bastando para isso ter algum conhecimento de bacharelado e, obter uma autorização do Poder Judiciário para trabalhar na profissão.
Na época, não havia na Pátria recém descoberta nenhuma Faculdade de Direito, o que perdurou até a chegada da Família Real Portuguesa, por volta do século XIX. Com a família, chegaram também os dois primeiros cursos jurídicos.
Mas, nem todos os aficcionados pela profissão, tinham condições de pagar os estudos. Então, os Rábulas foram ficando, o que perdurou até as décadas de 60/70, quando a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) passou a exigir a formação acadêmica para o exercício legal da profissão.
Até então, o Rábula, por assim dizer, era um advogado “prático”. Aliás, que o “prático” era muito comum, naquela época, nas mais variadas profissões: médicos, engenheiros, obstetras (as famosas parteiras). Até mesmo dentistas, sendo o mais famoso deles o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o “Tiradentes”, apelido que adveio justamente da profissão.
Claro que, no meio de tanta facilidade, não faltavam os charlatões.
Todo esse preâmbulo, para realmente entrar no bojo do título central: o perigo das WEBs, para ouvintes e telespectadores. A facilidade da internet proporciona isso, o surgimento indiscriminado de canais de rádio e televisão, pelas várias plataformas das redes sociais.
A facilidade é tanta, que, qualquer um que se autointitula “jornalista”, ou “radialista”, está aí, com sua web em pleno vapor. Com destaque para aqueles que nunca tiveram chances ou oportunidades pelos canais competentes (leia-se rádios e TVs profissionais e devidamente licenciados), justamente pela falta de formação, ou, de um mínimo de conhecimento.
Sem falar dos muitos blogues que existem por aí, de profissionalismo, ética e credibilidade altamente questionáveis.
É claro que há as muitas, variadas e benéficas exceções, já que “toda unanimidade é burra”, como bem o disse o imortal Nelson Rodrigues.
É preciso separar o joio do trigo.
Fica a cargo da visão de cada um.
Que a carapuça caia, aonde realmente servir.
Agora, vamos aos fatos: quando falo em “perigo” das webes/blogues (respeitando as exceções), estou me referindo ao risco da desinformação, da falta de qualidade do que está sendo levado ao ouvinte/telespectador/leitor e, principalmente – e aqui é onde mora o perigo – da falta de conhecimento, o mínimo que seja, desse interlocutor. E é conhecimento de modo genérico mesmo, notadamente da já tão sofrida e maltratada linguística portuguesa. Pronúncias incorretas, ausência da observância dos verbos, “ss” e “rr” levados para as cucuias, sem falar de outras regras, que seriam simples para quem se desse ao trabalho de buscar um pouco mais de aprendizado. É vergonhoso, ler e ouvir muitas titicas que proliferam por aí, com as bênçãos das redes sociais (respeitando as exceções, é claro. Pode estar sendo redundante, mas é apenas para assegurar que a carapuça só vai cair, aonde realmente couber).
Ou seja, também nos meios do rádio/jornalismo há também os “práticos”. Os charlatões.
Não à toa, o jornalismo em si, a cada dia que passa está caindo em credibilidade. Já não é mais considerado o então 4º poder.
A enxurrada de rádios/TVs Webes espalhadas pelo país, serviu também para “prostituir” a profissão.
Aliás, só piorou um pouquinho mais.
Essa “prostituição” na comunicação, na verdade, começou mesmo com a venda de horários para terceiros. Foi quando, ótimos e bons profissionais passaram a ser preteridos, para dar espaço à péssimos e ruins.
E assim segue, a nossa pobre e reles comunicação do futuro. Repito, com as devidas exceções.
*Jornalista e Radialista, do Blog do Cara Feia e GuajaráFM Web