A expectativa de vida após o diagnóstico de demência é uma das principais preocupações de familiares de pessoas com a doença. Em média, este tempo pode variar de nove a dois anos, de acordo com um novo estudo publicado no periódico British Medical Journal (BMJ). Os achados também sugerem que um terço dos indivíduos são admitidos em uma casa de repouso nos três primeiros anos após a identificação da condição.
Para chegar aos resultados, pesquisadores da Holanda analisaram mais de 250 estudos publicados em um período de 40 anos. Enquanto 235 trabalhos se debruçaram sobre a sobrevivência, outros 79 versaram sobre a admissão em estabelecimentos de cuidados permanentes.
Ao todo, o levantamento reuniu dados de mais de 5 milhões de pacientes, com uma idade média de 79 anos e com participação feminina de 63%. Os artigos, publicados entre 1984 e 2024, eram principalmente de países da Europa e da América do Norte, com um tempo médio de acompanhamento de 7 anos.
A investigação revelou que a sobrevivência média variou de 9 anos, para mulheres diagnosticadas na faixa dos 60 anos, a 2 anos, quando tratava-se de homens com idade média de 85 anos.
“A diferenciação nas expectativas de vida baseada na idade e no sexo é importante, pois demonstra que fatores demográficos influenciam significativamente na progressão da doença”, comenta o neurocirurgião e neurocientista Fernando Gomes, professor livre docente da Universidade de São Paulo (USP).
No geral, a demência reduziu a expectativa de vida em cerca de dois anos para pessoas identificadas aos 85 anos, 3 a 4 anos com detecção aos 80 anos e até 13 anos com a descoberta aos 65 anos. Ou seja, uma pessoa que recebeu o diagnóstico aos 65 tende a viver 13 anos a menos do que uma pessoa da mesma idade, sem demência.
“É evidente que a idade no momento do diagnóstico é um determinante crucial da longevidade. Essa variação destaca a necessidade de uma abordagem personalizada no cuidado aos pacientes, considerando as suas condições individuais e o contexto em que vivem”, acrescenta Gomes.
Em média, o tempo de vida foi pouco mais de um ano mais longo entre populações asiáticas e entre pessoas com Alzheimer em comparação com outros tipos de demência.
O QUE LEVA ÀS CASAS DE REPOUSO
O tempo médio para admissão em casa de repouso foi de pouco mais de 3 anos, sendo 13% das pessoas internadas no primeiro ano após o diagnóstico, aumentando para um terço (35%) em três anos e mais da metade (57%) em cinco anos.
“Conforme a demência avança, os sintomas cognitivos e funcionais tendem a se agravar, tornando o cuidado domiciliar desafiador. Os pacientes também podem precisar de supervisão constante e cuidados específicos, que podem ser mais bem providos em um ambiente profissional”, pontua o neurologista Diogo Haddad, head do Centro Especializado em Neurologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
O neurologista destaca ainda questões como recursos limitados e o isolamento social como motivadores para a entrada em instituições de longa permanência.
“Famílias podem ter limitações financeiras, emocionais, ou físicas para cuidar do paciente em casa. A demência pode aumentar o isolamento do paciente, e as casas de repouso podem oferecer oportunidades de socialização e atividades adaptativas”, acrescenta Haddad.
Para Gomes, o achado do estudo não apenas indica a rapidez com que a condição pode progredir, mas também ressalta a necessidade de suporte adicional e planejamento de cuidados desde os estágios iniciais da demência. “A admissibilidade nestas instituições pode ser um reflexo da gravidade dos sintomas e das necessidades de cuidado, o que sugere que os cuidadores e as famílias devem estar preparados para essa possibilidade”, enfatiza Gomes.
No entanto, os autores observam que essas estimativas são menos confiáveis e devem ser interpretadas com cautela. Diferenças nos métodos de estudo e relatórios inconsistentes de medidas, como status socioeconômico, raça, gravidade da doença e condições preexistentes, podem ter afetado as conclusões.
NOVO TESTE
Pesquisadores do Instituto Florey de Neurociência e Saúde Mental da Universidade de Melbourne, na Austrália, desenvolveram e validaram uma nova ferramenta para prever melhor a idade de início do comprometimento cognitivo leve e sintomas de demência.
Os especialistas propõem que o Índice de Demência de Florey (FDI, em inglês) seja o primeiro a estimar com precisão esse momento usando apenas a idade do paciente e sua pontuação na Classificação Clínica de Demência (escala CDR), uma medida global de cognição e função obtida por entrevistas com o paciente e o cuidador.
De acordo com o estudo publicado no JAMA Network Open, o indicador foi desenvolvido a partir de informações de 3,7 mil participantes de outras três pesquisas.
“Atualmente, não há ferramentas disponíveis em clínica para prever a idade em que um paciente apresentará declínio cognitivo leve ou sintomas de Alzheimer. Precisamos de maneiras não invasivas acessíveis para estimar isso com precisão, para ajudar no tratamento e para permitir que os pacientes façam planos enquanto são capazes”, afirma o cientista e um dos autores Yijun Pan, do Instituto Florey, em comunicado.
Os pesquisadores utilizaram dados de indivíduos saudáveis e assintomáticos para prever a idade em que eles desenvolveriam os sintomas. Em seguida, verificaram a previsão estabelecida em relação à idade real de seus diagnósticos clínicos.
“Nosso teste agora precisa ser validado prospectivamente, mas pode ser potencialmente usado como uma ferramenta de triagem para pessoas com mais de 60 anos que não apresentam sintomas de comprometimento cognitivo leve ou de Alzheimer, especialmente para aqueles em risco”, pontua o cientista.
Fonte: Saúde.Abril
Por Lucas Rocha
(Pedro Gonçalves/SAÚDE é Vital)