O novo Mercado de São Brás, memória viva da história e da cultura paraense, evidenciará a trajetória preciosa do prédio da Belém de 1911, restaurado e requalificado, a ser entregue à população nesta quarta-feira, 18 de dezembro. Personalidades das artes, da gastronomia e da ciência da capital paraense, já falecidas, darão nome aos ambientes do complexo. Entre os homenageados estão o engenheiro Augusto Meira Filho, o artista plástico e pintor Acácio Sobral, o escritor Vicente Cecim, o chef de cozinha Paulo Martins, o poeta Max Martins e o compositor Alcyr Guimarães.
A nave principal do prédio, tombado como patrimônio histórico do município de Belém e do estado do Pará, vai se chamar Augusto Meira Filho (1915-1980), em alusão ao engenheiro, discípulo de Francisco Bolonha, que ficou conhecido pelas obras, especialmente na área de abastecimento de água de Belém, quando dirigiu o Serviço de Águas do Pará e, também, pelo fomento à cultura. Augusto é pai do arquiteto Aurélio Meira, que assina as obras de restauro e requalificação do Mercado de São Brás.
“O momento é tão significativo. O papai era sensível às questões da cidade, certamente, se aqui estivesse, estaria aplaudindo relevante feito, o renascimento deste icônico bem cultural de Belém, e diria obrigado, Edmilson, pelo presente. A história será a grande responsável ao valorizar teus feitos”, disse Aurélio Meira.
Já as naves laterais, situadas à esquerda e à direita da nave principal, onde funcionarão restaurantes e outros serviços, homenageiam o maestro, tenor e compositor Adelermo Matos (1916-2003), que foi professor de várias gerações de músicos de Belém; e o folclorista, historiador e escritor Ernesto Cruz (1898-1976), que dirigiu a Biblioteca e Arquivo Público do Pará, o Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP) e o antigo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), atual IPHAN, sendo responsável pelo tombamento de vários prédios históricos no estado.
O segundo mezanino da nave principal terá um palco para a apresentações musicais que se chamará Alcyr Guimarães (1951-2020) em homenagem ao cantor, compositor, multi-instrumentista, médico, biomédico, pesquisador e professor, autor de mais de 500 canções, produtor de cerca de 250 álbuns, que gravou discos no exterior e tocou com Sivuca e Hermeto Pascoal.
Ainda dentro do prédio histórico, haverá quatro galerias de arte que receberão os nomes de emblemáticas figuras dos meios artístico e da comunicação paraense: Acácio Sobral, Vicente Franz Cecim, João Carlos Pereira e Roberto de La Rocque.
Acácio Sobral (1943-2009) foi um premiado artista com pós-graduação em História e Memória da Arte e autor de livro, participou de exposições em Belém e outras capitais brasileiras e países. Vicente Cecim (1946-2021), foi o premiado autor da coletânea “Viagem a Andara, o livro invisível”, inspirada em uma Amazônia onírica, com livros publicados por São Paulo, Portugal e França, também foi poeta, cineasta, publicitário e jornalista.
Roberto de La Rocque Soares (1924-2001) foi engenheiro, arquiteto e urbanista e artista plástico com muitas exposições, projetou a Igreja São José de Queluz (1950) e a Capela do Centro Comunitário Santa Izabel de Hungria (1976), entre outros. João Carlos Pereira (1959-2020) foi professor, pesquisador do Círio de Nazaré e membro da Academia Paraense de Letras (APL), comentarista da TV Liberal na cobertura da procissão religiosa por anos.
Atrás do prédio principal do mercado, dois quiosques se destacam pela arquitetura da Belle Èpoque francesa, seguindo o estilo do conjunto arquitetônico original. Eles receberão os nomes em homenagem a Ivana Azevedo (1951-2020), ativista de direitos humanos e das mulheres, pedagoga, teóloga e educadora popular, fundadora do Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense (MMNEPa); e Moisés Moreira dos Santos (1954-2020), engenheiro agrônomo, que foi secretário estadual de Transporte, secretário municipal de Economia de Belém, superintendente da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) no Pará e superintendente Federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no estado.
O chef Paulo Martins (1946-2010), pioneiro na promoção da culinária paraense em plano nacional e internacional, dará nome ao Boulevard da Gastronomia, um novo espaço com modernos restaurantes de vidro construídos entre o prédio principal e a área das boieiras do complexo. Já o espaço gastronômico, que abrigará os feirantes originais do local, vai se chamar Geraldo de Azevedo Lisboa (1942-2019) em homenagem ao feirante, apaixonado pelo Mercado de São Brás, que trabalhou a maior parte da vida ali.
O economista Fernando Coutinho Jorge (1939-2019), primeiro prefeito de Belém eleito democraticamente, em 1988, ex-deputado federal, senador e ministro do Meio Ambiente no governo Itamar Franco e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Pará (TCE-PA), dará nome ao pavilhão que abrigará vendedores de proteínas, artigos religiosos, artesanato, importados e prestadores de serviços diversos.
O complexo também terá o Polo Moveleiro Paraense, que funcionará no antigo prédio da Yamada, ao lado, onde os feirantes trabalharam provisoriamente durante as obras. A reforma do prédio será realizada com a volta dos feirantes ao mercado. A frente desse imóvel ganhou uma calçada de quatro metros, que será adaptada para uma praça que se chamará Max Martins (1926-2009), em homenagem ao famoso poeta modernista belenense, autor de 11 livros e reconhecido mundialmente.
Nomes dos espaços em homenagem:
1. Quiosque Ivana Azevedo
2. Quiosque Moisés Moreira dos Santos
3. Galeria Acácio Sobral
4. Galeria Professor Roberto de La Rocque Soares
5. Nave Adelermo Matos
6. Nave Augusto Meira Filho
7. Nave Ernesto Cruz
8. Boulevard Paulo Martins
9. Pavilhão Coutinho Jorge
10. Espaço Gastronômico Geraldo Lisboa
11. Polo Moveleiro Paraense
12. Praça Max Martins
13. Palco Alcyr Guimarães
14. Galeria Vicente Franz Cecim
15. Galeria João Carlos Pereira
Biografias dos homenageados:
1- Acácio Sobral: artista plástico e pintor paraense, pós-graduado em História e Memória da Arte (Unama) e autor do livro “Momentos Iniciais do Abstracionismo no Pará”, publicado pelo Instituto de Artes do Pará (IAP). Participou de exposições em Belém, em outras capitais (Fortaleza, São Luís, São Paulo, Macapá e Brasília) e em outros países (Alemanha e Estados Unidos). Foi premiado com Menção Honrosa na Coletiva Leônidas Monte, da Assembleia Paraense, 1974; e no Salão Arte Pará, com destaque ao Grande Prêmio das edições de 1995 e 2004. (Nasceu em 25/02/1943 e faleceu em 24/11/2009).
2- Adelermo Matos- Maestro, cantor, instrumentista, compositor, folclorista e professor. De formação lírica, foi exímio tenor, interpretou peças de ópera, lecionou na sua Academia Paraense de Técnica Vocal e na rede pública de ensino, inclusive no Conservatório Carlos Gomes. Fundou o Coral do Colégio Estadual Augusto Meira, o Conjunto Folclórico do Pará e, ao lado de Waldemar Henrique, Raimundo Pinheiro e Altino Pimenta, fundou a Academia Paraense de Música. Compositor do “Xote Bragantino”, cantada até os dias atuais (Nasceu em 1916 e faleceu em 2003).
3- Alcyr Guimarães: Um dos compositores paraenses mais conhecidos da sua geração, foi também cantor, multi-instrumentista, médico (virologista), biomédico, pesquisador da Organização Mundial de Saúde (OMS) e professor. Natural de Muaná, no Marajó, integrou o grupo de samba Manga Verde, foi compositor do Rancho Não Posso Me Amofiná, autor de mais de 500 canções, produziu cerca de 250 álbuns, gravou discos e se apresentou na Alemanha, Inglaterra e Holanda e tocou com artistas nacionais, como Sivuca e Hermeto Pascoal. (Nasceu em 28/08/1951 e faleceu em 09/02/2020).
4- Augusto Meira- Belenense e engenheiro civil. Foi aluno de Francisco Bolonha, trabalhou na Diretoria de Obras do Pará e dirigiu o Serviço de Águas do Pará, período em que realizou obras de fornecimento de água em Belém. Participou da fundação da Associação Brasileira de Saneamento e da Associação Interamericana de Engenharia Sanitária e defendeu a construção da estrada e da ponte para Mosqueiro. Fundou, em 1947, a Sociedade Artística Internacional (SAI), que promovia eventos artísticos. (Nasceu em 05/08/1915 e faleceu em 08/07/1980).
5- Fernando Coutinho Jorge- Belenense, economista e professor, foi o primeiro prefeito de Belém eleito democraticamente (1985-1988). Foi secretário-geral do Instituto de Desenvolvimento Econômico-Social do Pará (IDESP), secretário de Planejamento nos governos de Aloysio Chaves e Alacid Nunes, deputado federal, senador, ministro do Meio Ambiente no governo Itamar Franco e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Pará (TCE-PA). (Nasceu em 30/05/1939 e faleceu em 17/03/2019).
6- Ernesto Cruz- Folclorista, historiador, escritor e contista belenense. Foi diretor da Biblioteca e Arquivo Pùblico do Pará, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP), delegado do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), por meio do qual teve atuação de destaque na institucionalização do patrimônio histórico do estado do Pará, além de membro do Conselho Estadual de Genealógicos de São Paulo e colaborador de jornais e revistas. (Nasceu em 20/11/1898 e faleceu em 03/02/1976)
7- João Carlos Pereira: professor e jornalista belenense, pesquisador sobre o Círio de Nazaré e membro da Academia Paraense de Letras (APL). Foi comentarista da TV Liberal na cobertura da procissão religiosa e articulista do jornal O Liberal. (Nasceu em 02/08/1959 e faleceu em 10/11/2020).
8- Geraldo de Azevedo Lisboa: Natural de Bragança, veio a Belém em busca de emprego e renda e se apaixonou pelo Mercado de São Brás, onde fez amigos e trabalhou a maior parte da vida. Conhecido como Seu Geraldo, foi porta-voz dos feirantes do lugar, assumiu tarefas administrativas e lutou por melhorias no complexo e nas condições de trabalho. (Nasceu em 15/10/1942 e faleceu em 21/06/2019).
9- Ivana Azevedo: ativista social pelos direitos humanos, especialmente das mulheres, pedagoga, teóloga e educadora popular, nasceu em Humaitá, no Amazonas. Teve longa atuação no Pará, na fundação do PT e do Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense (MMNEPa), trabalhou na Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), foi assessora parlamentar federal e administradora do Distrito da Área Central de Belém (Dabel), de 2003 a 2005. (Nasceu em 25/09/1951 e faleceu em 01/12/2020, em Brasília).
10- Max Martins: famoso poeta modernista belenense, publicou 10 livros entre os anos de 1952 e 2001, incluindo “O Estranho” e “Caminho de Marahu”, além de ter tido a obra inédita “Say it (over and over again)” publicada após a sua morte, em 2022, pela Editora da UFPA. (Nasceu em 20/06/1926 e faleceu em 09/02/2009).
11- Moisés Moreira dos Santos: Engenheiro agrônomo belenense, foi secretário de Transporte do estado do Pará, secretário municipal de Economia da Prefeitura de Belém, superintendente da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) no Pará, superintendente Federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no estado e presidente do Fórum Nacional dos Superintendentes federais de Agricultura. (Nasceu em 07/05/1954 e faleceu em 19/11/2020).
12- Paulo Martins- Belenense, conhecido como embaixador da cozinha paraense, foi proprietário do Restaurante Lá em Casa junto com sua mãe Anna Maria, que funcionou por 49 anos. Criou o Festival Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, foi pioneiro na promoção da culinária paraense no Brasil e no mundo e mestre de cozinheiros famosos no país. Recebeu a Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura do Brasil (post-mortem) na classe de Comendador, em 2014. (Nasceu em 09/05/1946 e faleceu em 09/09/2010).
13- Roberto de La Rocque Soares- Belenense, graduado em Engenharia Civil e Arquitetura, professor universitário e artista plástico com muitas exposições realizadas. Trabalhou na Estrada de Ferro Belém-Bragança, Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), atual Sudam, Ministério da Agricultura e Departamento de Obras do Pará. Seus projetos dedicaram-se à estética regionalista e de conforto climático. Concebeu a Igreja São José de Queluz (1950) e a Capela do Centro Comunitário Santa Izabel de Hungria (1976), entre outros. (Nasceu em 28/10/1924 e faleceu 19/05/2001).
14- Vicente Franz Cecim: escritor, poeta, cineasta, publicitário e jornalista belenense. Publicou a coletânea “Viagem a Andara, o livro invisível”, inspirada em uma Amazônia onírica. Teve obras publicadas no Brasil, Portugal e França, inclusive, traduzidas também para o espanhol. Foi premiado em 1981, com a Menção Especial no Prêmio Internacional Plural e, em 1988, no Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). (Nasceu em 07/08/1946 e faleceu em 14/06/2021).
Texto:
Enize Vidigal
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