James Webb mostra que podemos estar errados sobre a idade do Universo

Lançado em 2021, o Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA, vem trazendo revelações impressionantes sobre o Universo. Esse instrumento avançado – o mais poderoso já enviado ao espaço – permite observar galáxias formadas apenas 200 a 500 milhões de anos após o Big Bang, oferecendo uma espécie de “janela do tempo” que nos permite ver o cosmos como ele era na juventude.

No entanto, essas observações estão apresentando desafios sérios para nossa compreensão atual da idade e formação do Universo, a ponto de nos questionarmos se o cosmos tem realmente o tempo de vida que estimamos hoje.

Ao examinar imagens e analisar espectros das galáxias remotas capturadas pelo Webb, os cientistas notaram que muitas delas são extremamente brilhantes, o que, de acordo com nosso modelo cosmológico, indica a presença de um grande número de estrelas e buracos negros em desenvolvimento rápido.

Isso é surpreendente, pois, segundo o conhecimento atual, essas galáxias se formaram em uma época muito próxima ao Big Bang, quando ainda não deveria haver tempo suficiente para que se desenvolvessem nesse nível de complexidade. O brilho dessas galáxias indicaria, em teoria, que a formação estelar e o crescimento de buracos negros ocorreram de forma bem mais rápida do que o esperado.

Dados do Telescópio James Webb pedem revisão do modelo cosmológico
Em um artigo publicado no site The Conversation, o astrônomo Sandro Tacchella, professor assistente de Astrofísica da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, explica que a cosmologia moderna é fundamentada no modelo ΛCDM. Esse modelo integra três componentes principais: matéria comum (a que podemos ver em galáxias e estrelas), matéria escura e energia escura.

Compondo cerca de 68% do conteúdo cósmico total, a energia escura, em especial, é um fenômeno ainda pouco compreendido que ajuda a explicar por que o Universo continua a se expandir a uma velocidade acelerada.

Observações anteriores, como a radiação cósmica de fundo e a maneira como as galáxias se distribuem, sustentam o modelo ΛCDM, consolidando a teoria do Big Bang quente para explicar a origem do cosmos. No entanto, os dados do JWST estão revelando galáxias tão distantes e desenvolvidas que alguns cientistas cogitam a necessidade de revisar nosso modelo cosmológico ou até reavaliar a idade do Universo.

Em teoria, galáxias muito distantes deveriam apresentar um “desvio para o vermelho” (redshift) maior, o que acontece porque a luz é esticada devido à expansão do Universo. Galáxias que surgiram 200 a 500 milhões de anos após o Big Bang possuem valores de redshift entre 10 e 15.

Entretanto, a quantidade e brilho desses objetos observados pelo JWST sugerem que, logo após o Big Bang, a formação estelar e o desenvolvimento de buracos negros ocorreram em um ritmo explosivo, o que é inesperado e difícil de acomodar no modelo ΛCDM.

Os cientistas estão considerando diversas hipóteses para explicar essas observações. Uma delas é que o gás nas galáxias primordiais se converteu em estrelas com uma eficiência muito maior do que em épocas mais recentes, o que aceleraria a evolução dessas estruturas. Outra possibilidade é o feedback das galáxias, como explosões de supernovas e atividade intensa de buracos negros, que podem tanto impulsionar quanto dificultar a formação estelar em suas fases iniciais. Alguns pesquisadores sugerem que a física da formação de galáxias talvez seja diferente em fases tão primitivas, o que poderia alterar a maneira como modelamos a evolução cósmica.

Uma proposta mais ousada é que a “energia escura inicial” – uma forma temporária de energia cosmológica presente logo após o Big Bang – possa ter alterado a distribuição de matéria e energia no Universo primitivo.

Isso significaria uma mudança no espectro de potência da matéria, o que ajudaria a explicar as discrepâncias atuais entre as estimativas da idade do Universo baseadas na expansão observada e nas propriedades do fundo cósmico de micro-ondas (CMB). Um estudo publicado em 2023 sugere que, para acomodar as descobertas do JWST, a idade do Universo precisaria ser estendida em bilhões de anos, o que afetaria a cronologia da formação galáctica.

No entanto, antes de alterar o modelo cosmológico, é necessário entender melhor os processos que influenciam o brilho e a taxa de formação estelar das galáxias.

Galáxia JADES-GS-z14-0, como era 290 milhões de anos após o Big Bang, vista pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA. Crédito: NASA, ESA, CSA, STScI, Brant Robertson (UC Santa Cruz), Ben Johnson (CfA), Sandro Tacchella (Cambridge), Phill Cargile (CfA)
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Uma das galáxias mais distantes já identificadas, a JADES-GS-z14-0, revela que muitas dessas galáxias apresentam características variadas: algumas têm buracos negros ativos e outras abrigam estrelas jovens e pouco empoeiradas, fatores que podem aumentar o brilho. Como essas galáxias são difíceis de observar e exigem longos tempos de exposição, o número de galáxias analisadas com espectroscopia ainda é pequeno, dificultando uma conclusão sólida.

Outra abordagem envolve estudar galáxias em momentos cósmicos posteriores, de um a dois bilhões de anos após o Big Bang. Nesses períodos, as condições de formação estelar eram mais conhecidas e permitem usar o JWST para traçar uma linha de comparação.

Assim, em vez de considerar as primeiras galáxias observadas como “quebradoras do Universo”, como algumas alegações sugeriram, o foco é entender se essas descobertas apontam para uma evolução natural mais rápida ou se realmente exigem ajustes nos fundamentos cosmológicos.

As revelações do JWST trazem à tona uma pergunta intrigante: estamos prontos para rever as estimativas sobre a idade do Universo ou estamos apenas começando a decifrar a complexa história de sua formação inicial?

Fonte Olhar Digital
Flavia Correia
James Webb
Conceito artístico do Telescópio Espacial James Webb. Crédito: NASA