Pacto para regulamentar IA é aprovado na ONU com troca de farpas entre governos

Após quatro anos de intensas discussões, acaba de ser formalizado um pacto que estabelece padrões éticos e de direitos humanos no desenvolvimento da IA. O que foi anunciado como “histórico”, no entanto, acabou enfraquecido.

Neste domingo (22), em Nova York, nos EUA, teve início a “Cúpula do Futuro”, promovida pela ONU – com a aprovação do “Pacto do Futuro”, um plano para orientar as negociações internacionais nos próximos dez anos.

O documento abrange temas como mudanças climáticas, direitos humanos e desenvolvimento social, além de propor a reforma do Conselho de Segurança da ONU e a revisão de organismos financeiros para incluir países emergentes.

 

Não houve o consenso esperado na aprovação do Pacto do Futuro da ONU
De acordo com reportagem de Jamil Chade, do UOL, a expectativa era de que o pacto fosse aprovado por consenso, mas a Rússia, de forma inesperada, apresentou novas exigências, ameaçando bloquear o acordo caso seus interesses não fossem atendidos.

Embora o pacto tenha sido aprovado, a manobra russa evidenciou a polarização global e enfraqueceu o impacto do documento. Moscou e seus aliados, como Nicarágua e Belarus, expressaram seu distanciamento, alegando que o acordo favorecia um pequeno grupo de países e criticaram a falta de consultas adequadas.

A Rússia, em particular, exigiu garantias de que a ONU não interferisse em assuntos internos de nações soberanas, uma questão que gerou tensões ao longo das negociações.

Líderes das potências do Conselho de Segurança não compareceram
O esvaziamento político da cúpula ficou evidente, com a ausência dos líderes das cinco potências do Conselho de Segurança (EUA, França, Reino Unido, Rússia e China), que enviaram apenas seus ministros, indicando que o pacto não teria o peso desejado.

No entanto, o impasse chegou ao auge durante a sessão final, quando a Rússia interrompeu a reunião para criticar o acordo, alegando que o Ocidente estava manipulando as negociações em benefício próprio. “Isso não pode ser chamado de multilateralismo Isso é uma derrota para a ONU e um acordo para atender a um grupo pequeno de países”, disse a chefia da delegação russa..

A delegação do Congo, representando os países africanos, defendeu o pacto e alertou que a ONU se encontrava em uma “encruzilhada”, destacando a importância de demonstrar unidade frente aos desafios globais. O México também se posicionou contra as emendas russas, afirmando que essas propostas não foram devidamente discutidas.

Outros países, como Camarões, apoiaram o pacto, enquanto Venezuela, representando Irã e Síria, criticou o Ocidente e apoiou as exigências russas, afirmando que a falta de disposição para negociar por parte dos países ocidentais havia causado o impasse.

No final, a proposta russa de votar uma emenda ao pacto foi rejeitada, com 143 países, incluindo o Brasil, se posicionando contra a iniciativa de Moscou, que recebeu o apoio de apenas sete nações.

Embora tenha sido seguido de aplausos, o resultado escancarou a divisão entre os países. O Pacto do Futuro foi aprovado, porém, sem conseguir apaziguar as tensões entre as principais potências mundiais.

António Guterres, secretário-geral da ONU, declarou que o objetivo da cúpula era “resgatar o multilateralismo do abismo”, mas poucos acreditam que o pacto aprovado será capaz de atingir esse objetivo de forma significativa. O processo negociador, marcado por divergências profundas, demonstrou os desafios em alcançar uma verdadeira cooperação global diante de interesses conflitantes.

Fonte Olhar Digital
Flavia Correia
Bandeiras dos países membros da ONU, na sede, em Nova York, EUA. Crédito: Wind-moon – IstockPhoto