Se fôssemos seguir um índice alfabético de doenças, encontraríamos nela diversas causas para a queda de cabelo. Ou seja, é um sintoma muito comum, até por isso ele precisa ser bem investigado por um profissional de saúde antes de apostar em soluções mágicas para preservar os fios.
Trata-se de uma questão não apenas estética. A alopecia, nome técnico da calvície, tem impacto psicológico profundo. Pessoas com a condição podem experimentar ansiedade e medo da percepção negativa por parte dos outros. Estudos recentes indicam que ela pode estar associada a mais estigmatização do que condições de saúde mental.
Um grupo de dermatologistas examinou os personagens calvos do cinema, detectando que os filmes de Hollywood geralmente retratam personagens malignos com calvícies extremas e também que, em muitos filmes, a batalha do bem contra o mal é equiparado à batalha do cabelo contra a alopecia.
Em Harry Potter, Lord Voldemort é calvo, mas todos os seus oponentes ostentam vastas madeixas. Mais: as obras usam a perda gradual de cabelo como um reflexo da transição do bem para o mal de personagens. Em O Senhor dos Anéis, o bondoso Sméagol teve uma farta cabeleira antes de se tornar o maléfico Gollum.
Tipos de queda de cabelo e suas causas
Na maioria das vezes, os fios caem pela chamada alopecia androgenética, que é a calvície tradicional.
Fora dessa situação, os fatores causadores são múltiplos, e correspondem a alterações variadas que podem estar acontecendo no organismo. Cada subtipo de alopecia tem causa, consequência e tratamento diferentes — daí a importância da consulta médica.
A alopecia areata, por exemplo, é autoimune, e se dá porque os próprios anticorpos do sistema imune do indivíduo atacam “por engano” os bulbos germinativos do cabelo, que caem, causando falhas em forma arredondada. A boa notícia é que já existe tratamento eficiente para ela com medicações do grupo dos imunobiológicos.
Outro caso comum é a alopecia pós-parto que começa cerca de dois a três meses após o parto, quando o número diário de cabelos que caem sobe do normal (50 fios/dia) para 300 a 500 fios/dia. Essa perda, chamada eflúvio telógeno, é considerada fisiológica, e se espera que em seis meses tudo volte ao normal.
É um mecanismo parecido ao que ocorre após situações de estresse, cirurgias de grande porte, viagens intercontinentais, e infecções (pós-Covid em especial). E pode, ainda, ser desencadeado por alterações metabólicas, nutricionais, dietas muito restritivas, cirurgia bariátrica, uso de remédios, drogas, tireoidite de Hashimoto, e diversas condições sistêmicas.
Quando intenso, está associado a algum evento que aconteceu três meses antes do início da queda, porque o período de preparo para a queda dura de dois a três meses e os fios se desprendem ao final desse ciclo. Em alguns casos, tratamentos medicamentosos auxiliam.
Outras doenças, como lúpus, porfiria cutânea tardia e condições autoimunes em geral cursam com perda de cabelos. Distúrbios genéticos também causam alterações, como o pili-torti. Ainda, alguns remédios, como cortisona e antidepressivos com lítio, podem interferir na proporção dos fios.
Tranças, penteados e outros hábitos
Certos estilos de penteado, extensores e escovação excessiva dos fios, tranças ou rabos de cavalo puxando demais causam a “alopecia de tração“, que afeta muito as mulheres e também crianças.
Ainda na seara estética, cabelos quimicamente tratados pelo uso frequente de alisantes ou permanentes podem se fragilizar. Nos estágios iniciais, tal processo ainda é reversível, mas, com o tempo, surgem regiões onde os fios não crescem mais e pode ocorrer uma alopecia cicatricial (definitiva), gerada pela cicatrização do folículo.
Por isso, se deve evitar que crianças mantenham penteados como tranças, coques, grampos e elásticos apertados por muito tempo. Já o excesso de calor (de secadores e alisadores) rompe a integridade dos fios e gera queda por rompimento do cabelo.
Uma nova forma, a alopecia frontal fibrosante tem surgido nos últimos anos e se deve provavelmente a excesso de agentes químicos no cabelo.
Como para outros sistemas do organismo, a alimentação urbana ocidental (poucas frutas, muitos processados, gorduras e doces) é prejudicial. Para ter ideia, já foram feitos estudos científico relacionando bebidas açucaradas com a alopecia.
Como resolver a queda de cabelo
O tratamento tem evoluído muito, e uma das melhores novidades é o uso oral do Minoxidil. Não é uma droga nova — existe como anti-hipertensivo desde 1979. Aconteceu que os pacientes hipertensos começaram a tomá-la para tratar a pressão alta e notaram crescimento do cabelo, com fios mais fortes e mais vigorosos.
Então, se adotou o uso tópico em loção, com bons resultados. Desenvolvida posteriormente, a forma sublingual de baixa dose está se impondo, com resultados melhores.
Como anti-hipertensivo, o minoxidil é administrado na dose de 5 mg a 40 mg por dia. Essa quantidade produz efeitos colaterais, como retenção de sódio e líquidos. Para os cabelos, a dose é bem menor, entre 1 a 2 mg, e raramente provoca alguma reação, com ótimos resultados.
A finasterida oral tem resultado eficiente, mas o surgimento da dutasterida, tem apresentado melhor resultado. Ambos atuam na modulação dos níveis de testosterona.
No campo dos procedimentos, o uso do laser Thulium-1927nm é outra opção. Ele age no bulbo do fio, estimulando a proliferação de células que condicionam o crescimento capilar e aumentando o fluxo sanguíneo na região, o que libera fatores de crescimento que densificam a concentração dos cabelos. Porém, nem todos os equipamentos de laser que foram lançados são eficazes.
Repetindo, a alopecia tem vários subtipos e pode ser sintoma de doenças. Portanto, é sempre necessário consultar-se com um dermatologista. Não existe especialista só em cabelo, justamente porque ele reflete condições médicas gerais, que o profissional deve dominar.
*César Bimbi é dermatologista, especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD)
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)
Por César Bimbi, dermatologista*
(Foto: Freepik/Divulgação)