A Polícia Federal e a Polícia Científica do Pará realizaram ontem, quarta-feira, 17, o exame dos nove corpos retirados da embarcação encontrada no mar próximo ao município de Bragança, no nordeste paraense, na manhã do último sábado, 13. A atividade envolveu mais de 30 pessoas em trabalho multidisciplinar, adotando o padrão de identificação de vítimas de desastres da Interpol, a Polícia Internacional.
Segundo nota divulgada pela Polícia Federal, o exame dos corpos seguiu a sequência: exame radiológico; exame de vestes, pertences, documentos e adereços; exame médico-legal, com coleta de material para exames de DNA e de isótopos estáveis; exame odontolegal; exame necropapiloscópico; e estação de verificação de documentos e controle de qualidade.
Depois, os dados colhidos foram enviados para continuar o processo de identificação em Brasília/DF, pelo Instituto Nacional de Criminalística e Instituto Nacional de Identificação da Polícia Federal, com apoio da Interpol e organismos internacionais.
Conforme informações da Polícia Federal no Pará, como a migração de pessoas dos países africanos é uma questão humanitária que conta com milhares de pessoas desaparecidas e inexistem dados técnicos estruturados, não é possível estimar o prazo para identificação dos nove corpos. Contudo, o órgão faz todos os esforços para que a identidade das vítimas seja estabelecida no menor tempo possível.
Inicialmente, os corpos serão sepultados em Belém, até que as identidades tenham sido estabelecidas e as famílias das vítimas possam ser formalmente comunicadas, adotando-se os devidos canais de cooperação policial e jurídica internacionais.
Também ontem, segundo a nota, os peritos da Polícia Federal e da Polícia Científica estadual finalizaram o exame da embarcação, assim como de todos os pertences, vestes e objetos que estavam em seu interior. Além das 25 capas de chuva e diversos objetos, foram encontrados 27 telefones celulares, que foram encaminhados para exames periciais no instituto nacional de criminalística. As possíveis informações extraídas dos celulares, dos seus chips e cartões de memória, em conjunto com ações de cooperação internacional, serão utilizadas para trazer indicativos sobre a identidade dos ocupantes da embarcação e, talvez, a narrativa do que porventura tenha ocorrido durante a fatídica viagem que começou depois de 17 de janeiro, na Mauritânia, na região noroeste da África.
A ideia, pelo que deduzem os federais no Pará, era que os fugitivos da África pretendiam chegar às Ilhas Canárias, uma possessão espanhola na África, de onde pediriam asilo e iriam buscar uma nova vida. No entanto, alguma coisa saiu errado, a embarcação ficou à deriva por todos esses meses até ser encontrada por pescadores na região de Bragança, altura do Tamatateua. A embarcação, tipo batelão, de 13 metros, estava sem leme nem motor, fatos estes que também são alvo das investigações da PF, Interpol e Marinha do Brasil.
Nos celulares dos náufragos, é possível que haja uma pista sobre o que ocorreu.
Foto: Ascom/SRPF/PA