A cultura de um povo tem uma grande influência sobre seus indivíduos. Sua filosofia, após instaurada e aceita, tem a capacidade de moldar todo o pensamento e imaginário popular sem que as pessoas percebam, mudando seus hábitos, seus atos, suas ações e, até mesmo, a sua relação com a religião.
Os cristãos atuais, ao viverem na presente era, também não escapam das influências filosóficas aceitas e propagadas pela sociedade atual. Dessa forma, como consequência, muitos cristãos têm se deixado levar pelos pensamentos vigentes em nossa era, tem se deixado levar pela filosofia de nossa época, e pelo novo modo de ser da chamada sociedade pós-moderna e, como consequência, isso tem transformado e modificado toda a sua forma de crer e de manifestar sua crença. Assim, influenciados e guiados pela cultura pós-moderna, muitos dos chamados “cristãos” que se encontram dentro das igrejas hoje têm modificado todo o seu culto, toda a sua liturgia, toda a sua forma de adoração a Deus, para adotarem novas formas e manifestações religiosas embasadas na cultura pós-moderna.
Uma das transformações mais visíveis na forma de crença e do culto cristão na atualidade, foi a mudança de uma visão Teocêntrica para a interpretação da realidade e do relacionamento com Deus, para uma visão Antropocêntrica, onde o homem, seus desejos e suas vontades, se tornaram o ponto central de toda a vida religiosa. Assim, a adoração e a exaltação a Deus foram deixadas de lado, e o Homem ocupou tal posição, em um processo que se desenvolveu de forma rápida para alguns, lenta aos olhos de outros, mas, inegavelmente, um processo bem eficiente, trazendo grandes problemas para correntes cristãs de confissões tradicionais e, principalmente, para a interpretação e entendimento da Bíblia.
Antes, tanto o relacionamento com Deus, como a interpretação da realidade se dava através da visão de que Deus era o centro de tudo, de forma que tudo o que fosse feito, e toda a manifestação religiosa, se voltava para agradar e glorificar a Deus, buscando conhecer, entender, e cumprir a Sua vontade.
No mundo pós-moderno esse foco foi modificado. A sociedade pós-moderna é totalmente humanista. A cosmovisão cristã deixou de ser um guia e um padrão de vida. Na pós-modernidade o homem passou a ser o seu próprio padrão de medida e conduta. Suas ações não visam, como antes, ser aceitáveis e agradáveis a Deus, mas sim, se são aceitáveis ou agradáveis ao homem e a sociedade na qual vivemos atualmente.
Assim, como toda grande mudança em qualquer sistema e corrente de pensamento, essa mudança de perspectiva e centralidade no sistema religioso cristão tem trago grandes problemas dentro da perspectiva cristã e, não dificilmente, pode trazer, também, uma grande mudança para toda a sociedade, já que, a religião que antes era caracterizada pelo amor ao próximo, aos poucos, tem se transformado em uma religião onde tem prevalecido o culto ao “eu”, onde tem prevalecido o egocentrismo, provenientes das bases filosóficas do humanismo pós-moderno.
Dessa forma, hoje é fácil perceber que a religião, que antes era conhecida como a religião do amor ao próximo, passou a ser a religião daqueles que amam somente a si mesmos, e que não medem esforços para conseguirem o que querem, mesmo que, para isso, tenham que usar o nome de Deus em vão, sem nenhum temor ou receio.
Jesus, discutindo com os fariseus, já disse que eles sempre arrumavam um jeito de negligenciar e invalidar o mandamento de Deus para que eles pudessem seguir os seus próprios ensinamentos, sua própria tradição e, assim, fazer o que eles queriam, mesmo que fosse contra o que Deus havia ordenado nos mandamentos (Marcos 7: 5-13).
Hoje, estas mesmas palavras de Jesus seriam proferidas contra grande parte dos cristãos e das “igrejas” cristãs atuais que, influenciados pela filosofia de nossa era, trazem o cristianismo no nome, mas demonstram o farisaísmo em todas as suas ações, e ainda pensam ser corretos por trazerem em si, e consigo, tamanha dualidade, tamanha incompatibilidade, tamanha discrepância entre as suas palavras e as suas ações, entre aquilo em que dizem crer e aquilo que realmente fazem.
Tal forma de ser, e de agir, é extremamente comum em nosso tempo e, com isso, é fácil perceber que, ao invés de os cristãos, e o cristianismo, atual influenciarem a nossa sociedade pós-moderna, é a nossa sociedade pós-moderna, com toda a sua filosofia e visão de mundo (cosmovisão) que tem influenciado os cristãos, e o cristianismo, atuais. E isso trará enormes consequências…
*Wanderson R. Monteiro
Dr. Honoris Causa em Literatura e Dr. Honoris Causa em Jornalismo.
Bacharel em Teologia, graduando em Pedagogia. Acadêmico Correspondente da FEBACLA.
Acadêmico Fundador da AHBLA. Acadêmico Imortal da AINTE.
Vencedor de quatro prêmios literários. Coautor de 13 livros e quatro revistas.
(São Sebastião do Anta – MG)