Com a chegada das festas de Réveillon, acendo o alerta para uma antiga preocupação, os barulhos ensurdecedores dos fogos de artifício e os males que eles causam. O estampidos, que são soltos nos fogos durante as festas da virada de ano, a saúde auditiva fica prejudicada, além desta, a saúde emocional de crianças, pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), gestantes, idosos, pessoas acamadas e de animais também ficam prejudicadas.
Segundo Murillo Lobato, otorrinolaringologista do Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR), em Belém, o barulho do artefato pode acometer em perda total ou parcial, de audição.
“Os ouvidos têm um mecanismo próprio de defesa contra sons intensos. Mas, para que ocorra a autodefesa, é necessário um tempo estimado entre o barulho e a defesa. Os fogos com estampidos têm barulhos rápidos, que às vezes, pelo fato de a explosão ser mais rápida que o tempo de defesa, o estrondo pode provocar malefícios irreversíveis à audição”.O especialista esclarece que dependerá de uma série de fatores tais como: a proximidade entre a pessoa e a explosão. Em locais fechados com caixa de som, por exemplo, se o barulho estiver muito intenso, o ouvido vai percebendo-o e o órgão o contrai.
“Ao contrair, o ouvido não deixa o som ambiente entrar à parte interna. No exemplo de um ambiente fechado, em uma festa, o ouvido vai escutando o som e se adaptando à medida que a pessoa vai entrando no ambiente; é diferente quando acontece com os fogos de artificio que não dá tempo do ouvido se adaptar. Desta forma, em certos casos, o som passa direto para a parte interna do ouvido causando problemas auditivos”.
Murillo complementa que caso um usuário relate este tipo de ocorrência durante consulta médica na especialidade, no CIIR, são realizados exames ambulatoriais de Audiometria Tonal para fechar diagnóstico.
Prejudicial ao TEA – Assim como os barulhos provocados pelos fogos de artifício com estampido são prejudiciais para a saúde auditiva, eles também afetam a questão sensorial entre as pessoas com diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Segundo Izabella Frazão, terapeuta ocupacional do Núcleo de Atendimento ao Transtorno do Espectro Autista (Natea), pertencente ao CIIR, “é comum que as crianças com TEA apresentem algum tipo de hiperresposta auditiva demonstrando condutas aversivas ao barulho em datas comemorativas, principalmente, devido à presença de fogos de artifício que não necessariamente pode estar associada de forma exclusiva ao sistema auditivo, mas sim, multissensorial”.
Para a profissional, estas respostas agravadas estão relacionadas a problemas de modulação, que é a capacidade de regular a intensidade e a durabilidade do estímulo ou de múltiplas sensações internas e externas ao corpo. É necessário que nesses momentos sejam ofertados à pessoa com autismo estratégias de autorregulação eficiente.
“Uma das orientações normalmente ofertadas pelo terapeuta ocupacional é a utilização de abafadores; modificações ambientais visando a acomodação sensorial, como a retirada da pessoa do ambiente aversivo. Se estiver em contexto domiciliar, reduzir a iluminação e diminuir acesso ao ambiente externo”, aconselha Izabella Frazão.
Entre os reabilitandos assistidos pelo CIIR, que sofrem com os barulhos, principalmente, nesta época do ano, é Samuel da Silva, de 13 anos, com diagnóstico nível dois de autismo. Segundo o pai, Ademir da Silva, de 50 anos, é difícil controlar o filho em um ambiente com barulhos promovidos pelos fogos.
“O Samuel fica bastante desorganizado. Afeta muito a questão sensorial. Tanto é que até dentro de casa utiliza o abafador de ruídos para não o incomodar, justamente porque às vezes passam aquelas motos barulhentas em frente de casa; ele coloca as mãos nos ouvidos mesmo utilizando o abafador, certas vezes”.
O pai ainda destaca que quando saem para passear, “se o Samuel ouvir um barulho que o incomoda, principalmente de fogos, não sai do carro, logo, o passeio é prejudicado”. “A gente retorna para casa sempre que isso acontece. Agora você o imagina em um local com fogos. Não fica confortável, tanto para ele, quanto a nós, pais, por vê-lo na condição que ele fica”.
Ademir conta que mesmo em datas festivas como a do próximo domingo (31), a comemoração acontece dentro de casa. “A gente fica em casa justamente por conta de todo este panorama. É muito forte a ele o ambiente e não vou prejudicá-lo. Não tem como controlá-lo, então, dentro de casa estará mais protegido com recursos de acolhimento para amenizar. A gente sabe que no nosso bairro vai ter, infelizmente, e estamos preparando o ambiente em casa para o Samuel”.
O genitor aproveita para aconselhar quem insiste em soltar os fogos com estampido. “O meu direito termina quando começa o do próximo. Eu sei que é um dia comemorativo, mas que a sociedade sensibilize com as pessoas que são prejudicadas, assim como, o meu filho. Vamos comemorar de uma forma mais inteligente e sem prejudicar a saúde de ninguém”.
É Lei – Em maio de 2022, o governador Helder Barbalho sancionou a lei nº 9.593, que veta esse tipo de conduta, proibindo desta maneira, a soltura de fogos de artifício com estampido, no Pará.
Referência – O CIIR é referência no Pará na assistência de média e alta complexidade às Pessoas com Deficiência (PCDs) visual, física, auditiva e intelectual. Os usuários podem ter acesso aos serviços do Centro por meio de encaminhamento das unidades de Saúde, acolhidos pela Central de Regulação de cada município, que por sua vez encaminha à Regulação Estadual. O pedido será analisado conforme o perfil do usuário pelo Sistema de Regulação Estadual (SER).
Serviço – O CIIR é um órgão do Governo do Pará, administrado pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). O Centro funciona na rodovia Arthur Bernardes, n° 1.000, em Belém. Mais informações: (91) 4042.2157 / 58 / 59.
Fonte: Agência Pará/Foto: Divulgação