Alter do Chão, no Oeste do estado do Pará, é considerado o “caribe amazônico” e se tornou destino frequente de turistas em busca de suas praias de água doce às margens do Rio Tapajós. As belezas naturais que tornaram o local – que é vila do município de Santarém –conhecido, porém, estão ameaçadas pelo aumento de queimadas e do desmatamento na Amazônia que aceleram o processo de transformação da floresta amazônica em savana.
A esse processo, dá-se o nome de: savanização. De forma resumida é como se a diversidade de árvores fosse transformada em uma vegetação com espécies de pequeno e médio porte.
Um estudo realizado na região, acendeu o alerta em pesquisadores ao constatarem que uma floresta primária e densa – como é a floresta amazônica – pode ganhar aspectos parecidos com o de uma savana se for submetida repetidas vezes a processos de devastação.
“Mesmo que você tenha uma floresta que esteja em uma área bem protegida, se essa área pegar fogo repetidamente por alguns anos, é possível que o processo de savanização se intensifique nesse local”, alerta o pesquisador José Mauro Moura professor da Universidade do Oeste do Pará (Ufopa), um dos pesquisadores que atuaram nesse estudo.
Ele explica que a vegetação, embora seja relativamente aberta e com pouca cobertura vegetal sobre o solo, funciona como um filtro para as águas da chuva que irão abastecer os lagos e igarapés.
“Logo, se você elimina essa vegetação, queima, o solo vai ficar desprotegido e muito material pode ser carregado para a água dos rios. Então, aquela paisagem bonita que a gente conhece com praias e com lago pode ter uma mudança muito grande em função da cor da água”, diz ele.
A pesquisa foi conduzida pela universidade de Michigan, nos Estados Unidos, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação Graduação em Recursos Naturais da Amazônia da Universidade Federal do Oeste do Pará (PPGRNA-Ufopa), além da equipe do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), da Universidade de São Paulo (USP) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
O pesquisador destaca ainda que a Área de Proteção Ambiental (APA) de Alter do Chão é uma área em que há ocorrência de dois tipos de processo de savanização: as mais fechadas com composição florística mais parecida com a floresta e as com uma composição florística mais aberta, que se assemelham a áreas do centro-oeste do Brasil e da África.
Na avaliação de Caetano Scannavino, coordenador da ONG Projeto Saude e Alegria, a degradação da floresta e o processo de savanização deve nos levar à reflexão de que tipo de desenvolvimento temos hoje na Amazônia.
“Em termos de Amazônia, a gente desmatou o equivalente a duas Alemanhas de floresta para colocar o quê no lugar? 63% dessa área devastada é ocupada por pastagens de baixíssima produtividade, menos de um animal por hectare e os outros 23% são áreas abandonadas. Então, a gente está desmatando para produzir mal e para ficar mais pobre”, alerta.
Edição: Leandro Melito
Fonte: Brasil de Fato/Foto: Divulgação